sexta-feira, 21 de maio de 2010

Por um lugar ao sol

A vida de um Ghost Writer não é fácil. Compositor de renome, Antonio Villeroy assina sete canções do disco "Perfil" de Ana Carolina. O álbum vendeu mais de um milhão de cópias e foi o disco mais vendido do Brasil em 2005. O nome de Villeroy, no entanto, permaneceu nas pequenas letras do encarte.

No mesmo ano, ele concorreu ao Prêmio de Melhor Canção em Língua Portuguesa no Grammy Latino pela canção "São Sebastião", presente em seu disco ao vivo de 2004. Mesmo assim, o reconhecimento de público no Brasil não veio.

O fato de viver "à sombra" dos intérpretes de sua música serviu como inspiração para o conceito em torno de "José", seu novo disco. "José é qualquer um. É um personagem observador da história", explicou o músico, em entrevista ao Caderno 2.

"José" traz um Villeroy diferente daquele que assina músicas conhecidas na voz de outros artistas. As cantaroláveis melodias continuam presentes, mas as letras trazem uma linha dramática de clara influencia literária. A música que fecha o disco 'E agora você?', por exemplo, utiliza versos do poema "José", de Drummond, para questionar a humanidade

O próprio músico nao hesita em citar obras como 'Ilíadas', de Homero, e 'Budapeste' (cujo pratagonista, não por acaso, se chama José e é um ghost writer), de Chico Buarque, como fundamentais para o resultado final do disco.

Musicalmente, 'José' passeia entra a Bossa de "A flor que eu te dei" e o pop, mas sem a preocupação exagerada em soar comercial. Se Villeroy não tem a mesma força ou o charme de suas intérpretes habituais, sobra a ele talento e boa produção. A releitura de 'Aqui', gravada por Ana Carolina em 2007 supera em muito a original.

A veia comercial aparece em "Recomeço" na qual divide os vocais com Maria Gadu, para quem também já compôs. O ponto alto, no entanto, vem com uma boa dose de 'dor-de-cotovelo' na excelente regravação de "Felicidade" do Conterraneo Lupicínio Rodrigues.

Na definição do próprio compositor, "José" representa o maior desafio de sua carreira. É um depoimento sincero e autoral de um artista que parece não ter medo de permanecer no Gueto.

A Gazeta.