O verão de 1974 rendeu um antológico disco, gravado ao vivo no Teatro Vila Velha (Bahia): Temporada de verão. Gal Costa, Gilberto Gil e Caetano Veloso se reuniram e, com repertório iluminado, cantaram a multiplicidade (sintomática) sonora do Brasil.
Entre arranjos que ainda conservam e pulsão tropicalista (que, de fato, tornou-se um gesto revelador do país para sempre) surge "Felicidade", de Lupicínio Rodrigues. Aliás, seria interessante investigar porque as interpretações de "Felicidade" sempre suprimem duas estrofes da letra. Penso que o motivo seja o regionalismo (e referências biográficas, por que não?) compreendido naqueles versos.
A interpretação de Caetano Veloso investe na ausência da felicidade (que foi se embora). Ou seja, com entoação lenta (passional) e acompanhado (ao fundo) pela melodia de "Luar do sertão", de Catulo da Paixão Cearense (que supre a ausência das duas estrofes da letra), Caetano figurativiza a imagem do sujeito triste, distante da felicidade - só alcançada através do canto.
Um tanto diferente, mesmo em tom menor, a versão de Antonio Villeroy (José, 2010) tenta investir naquilo que está atrás do muro - a casa, esquecendo de que quem fala (canta) é o sujeito que está aqui (próximo do ouvinte) lamentando a não-felicidade. O sujeito gosta "lá de fora", mas está aqui dentro: afastado da felicidade, portanto.
Compositor de significativos sucessos na voz de Ana Carolina, José Antonio Franco Villeroy, cancionista atento, basta ouvir o disco José por completo, ilumina a felicidade (sempre sinônima da não-falsidade: da verdade) presentificada pelo canto do sujeito.
A canção (o canto) começa arrastada (a linha da melodia está muita próxima da voz), adensando o que é dito (a saudade que mora no peito) e vai acelerando (crescendo) para despertar a alegria através canto. O sujeito sozinho (e triste) se aquece ao cantar: vai em um segundo para sua casa.
A referência a Caetano Veloso, feita aqui no início, não é mero comparativismo tolo, já que o José (título do disco e, por que não, sujeito de "Felicidade") de Villeroy guarda profunda semelhança com o José da canção homônima de Caetano: "Estou no fundo do poço, meu grito lixa o céu seco". Embora o sujeito de Villeroy consiga vislumbrar raios de luz (no canto que, progressivamente, se alegra), enquanto o sujeito de Veloso espera "só consigo e mal consigo, no umbigo do deserto".
Entre arranjos que ainda conservam e pulsão tropicalista (que, de fato, tornou-se um gesto revelador do país para sempre) surge "Felicidade", de Lupicínio Rodrigues. Aliás, seria interessante investigar porque as interpretações de "Felicidade" sempre suprimem duas estrofes da letra. Penso que o motivo seja o regionalismo (e referências biográficas, por que não?) compreendido naqueles versos.
A interpretação de Caetano Veloso investe na ausência da felicidade (que foi se embora). Ou seja, com entoação lenta (passional) e acompanhado (ao fundo) pela melodia de "Luar do sertão", de Catulo da Paixão Cearense (que supre a ausência das duas estrofes da letra), Caetano figurativiza a imagem do sujeito triste, distante da felicidade - só alcançada através do canto.
Um tanto diferente, mesmo em tom menor, a versão de Antonio Villeroy (José, 2010) tenta investir naquilo que está atrás do muro - a casa, esquecendo de que quem fala (canta) é o sujeito que está aqui (próximo do ouvinte) lamentando a não-felicidade. O sujeito gosta "lá de fora", mas está aqui dentro: afastado da felicidade, portanto.
Compositor de significativos sucessos na voz de Ana Carolina, José Antonio Franco Villeroy, cancionista atento, basta ouvir o disco José por completo, ilumina a felicidade (sempre sinônima da não-falsidade: da verdade) presentificada pelo canto do sujeito.
A canção (o canto) começa arrastada (a linha da melodia está muita próxima da voz), adensando o que é dito (a saudade que mora no peito) e vai acelerando (crescendo) para despertar a alegria através canto. O sujeito sozinho (e triste) se aquece ao cantar: vai em um segundo para sua casa.
A referência a Caetano Veloso, feita aqui no início, não é mero comparativismo tolo, já que o José (título do disco e, por que não, sujeito de "Felicidade") de Villeroy guarda profunda semelhança com o José da canção homônima de Caetano: "Estou no fundo do poço, meu grito lixa o céu seco". Embora o sujeito de Villeroy consiga vislumbrar raios de luz (no canto que, progressivamente, se alegra), enquanto o sujeito de Veloso espera "só consigo e mal consigo, no umbigo do deserto".